18. UM CAFÉ COM AS FORMIGAS E O ECOSSISTEMA DE ESTIMAÇÃO

O milagre do entendimento de se ter, sob sua responsabilidade, um ecossistema inteiro ao seu redor.

Do Livro de Contos – O Andarilho – Histórias de Criança para Transformar Adultos – de Alexandre Viana.
Imagem de Gabi por Pixabay

INTRODUÇÃO:

UM CAFÉ COM AS FORMIGAS E O ECOSSISTEMA DE ESTIMAÇÃO

Um dia, um homem muito tranquilo e sereno, que morava sozinho, notou algo que muito o impressionou:
“NOSSA! DE ONDE SERÁ QUE VÊM TANTAS FORMIGAS QUE TRANSITAM EM MINHA CASA?

Era só deixar uma colher com restos de açúcar ou qualquer outro alimento, sobre a pia da cozinha que logo se aglomeravam, dezenas de formigas de vários tamanhos, que consumiam os pequenos lagos de açúcar, e as várias ilhas de restos, que rapidamente desapareciam.
As mais curiosas surgiam, inexplicavelmente do nada, eram grandes formigas negras e amarelas, que picavam os restos e carregavam, em fila, todos os pequenos pedaços que conseguiam levar.
E se caso um inseto morresse, lá estavam elas, as formigas novamente. Picavam e levavam as partes para longe dali.

Isso muito intrigava aquele homem:

“DE ONDE SERÁ QUE VEM TANTAS FORMIGAS?”

Ele não se revoltava com a presença de suas amigas. Ao contrário, elas lhe causavam admiração por serem tão incansáveis e esforçadas em seu trabalho.
Ele imaginava que elas deveriam morar próximas dele, onde se alimentavam dos resíduos da bagunça que ele produzia, levando tudo que conseguiam, para a sua própria casa.
O homem passou a ter um grande respeito pela presença delas, e se angustiava quando, ao lavar suas vasilhas, sem querer afogava algumas delas.
Se fosse deixado um filtro usado e molhado de café na pia, as grandes e negras principalmente, não resistiam e logo invadiam, sem medo a pia para sugar o doce ainda presente naquele filtro de café usado.
A cena era impressionante:
Um filtro de papel coalhado por toda sua extensão, de várias formigas grandes, negras e cabeçudas, focadas e concentradas em sugar o que ainda restava de açúcar naquele pedaço de papel molhado.
Em função deste respeito às suas novas amigas, resolveu então se disciplinar para tentar acabar ou diminuir a matança das pequenas formigas. Passou a limpar as vasilhas mais rapidamente, varria a casa com maior cuidado para não esmagá-las e tinha um cuidado maior em deixar o coador de café, ainda cheio de açúcar cafeínado, em um espaço mais reservado e seguro da pia para que elas não se machucassem ou fossem assassinadas por engano.
Suas ações tiveram efeito imediato, as formigas se concentravam apenas onde ele deixava o filtro de café humedecido.

Pensando nisso, o homem resolveu colocar o lixo orgânico em único lugar, deixando-o exposto em um local mais adequado para que pudesse observar o curioso e incansável trabalho das formigas sem o perigo de matá-las constantemente.
E a partir daquele dia, toda vez que fazia café, deixava o filtro de papel em uma caixa de papelão, para que as formigas se deleitassem com o seu delicioso cafezinho da manhã.

O HOMEM ANTES SOZINHO, SE VIU AGORA CERCADO DE INFINITOS SERES QUE CONVIVIAM PACIFICAMENTE COM ELE.

Passou a não ter apenas um único animalzinho de estimação e sim UM ECOSSISTEMA DE ESTIMAÇÃO, onde atento entendia mais a vida à sua volta, cuidava para causar menos prejuízo a esses pequenos colegas de ambiente.

Enquanto ia adquirindo essa consciência mais ampla, as formigas prosseguiam, se aglomerando para sugar o açúcar do filtro de papel, e este processo que se intensificava bastante durante a noite.
Na manhã do outro dia já estava tudo impressionantemente seco.

O homem então ficou curioso para saber:

ONDE SERÁ QUE MORAVAM AS SUAS NOBRES VISITAS DO CAFÉ DA MANHÃ?

E um dia resolveu seguir a trilha de formigas para descobrir onde era a casa delas.
Para a sua surpresa, percebeu que a fila extensa passava por todo o seu quintal, até a parede de divisa com o telhado do vizinho, avançando e rompendo as fronteiras de sua casa. Ficou admirado com a distância mas pensou:

“TALVEZ ELAS MOREM NO TELHADO DO VIZINHO.”

E essa já era uma distância bem longa, considerando o pequeno tamanho das suas pernas.
Curioso, resolveu subir até o telhado para ver até onde iam as suas pequenas visitas. E percebeu que não entravam debaixo das telhas. Elas iam pela calha até a ponta do telhado, que era ainda mais longe do que imaginava.

“NOSSA, QUE ESFORÇO PARA TOMAR UM CAFÉ!”

Atrevido e curioso, transgrediu e subiu no telhado do vizinho para ver até onde iam (sem o vizinho saber é claro). Rastejou até onde deu e só conseguiu entender que elas iam muito mais além ainda daquelas daquelas fronteiras, pois lá de cima do telhado conseguia ver a trilha de formigas descer pelo muro, ir pelo jardim de seu vizinho, passar pela grade da rua atrás de sua casa e continuar pela próxima casa.

“UFA! UM CAFÉ ANIMA MESMO, ATÉ AS FORMIGAS FICARAM ANIMADAS DEMAIS”.

Não satisfeito, desceu até a rua atrás de sua casa e lá achou a trilha, saindo de uma casa e entrando na outra, onde ficava o relógio de água e luz do terceiro vizinho, que mal sabia o que acontecia bem longe de sua casa na busca das formigas por um cafezinho.

Olhou para o trajeto atrás dele e pensou:

“MEU DEUS QUE IMENSO TRABALHO, ATÉ MESMO PARA UM SER HUMANO MUITO ESFORÇADO.”

Nesta aventura, o homem percebeu que as formigas não se alimentavam somente de seu filtro de papel com o doce café humedecido. Pelo caminho elas colhiam folhas, insetos e outros restos. Realmente o cafezinho era merecido, pois tinham muito trabalho em busca do seu alimento.
O homem se sentiu o máximo, lisonjeado por perceber que as formigas iam até sua casa, tão, tão distante de seu lar, apenas por causa de seu delicioso café. Perplexo, começou a calcular a enorme distância que um ser tão pequeno poderia percorrer, apenas para serem mais felizes e animadas.
Todas as manhãs, ele sempre deixava seu filtro de café para suas bravas amigas formigas, elas e todos os pequenos outros seres que compartilham a sua casa passaram a ser seus seres de estimação e objeto de análise, percebeu os pássaros, outros insetos, como besouros e borboletas, que mantinha. um ciclo complexo e perfeito de convívio harmônico, desde que ele não alterasse muito a ordem das coisas à sua volta.
Sendo um homem sozinho, ele não se preocupava tanto em manter as coisas arrumadas para as outras pessoas que porventura viessem a morar com ele.

Assim o homem solitário passou a fazer mais do que deixar apenas um filtro de café usado em sua pia, percebeu onde outros seres tinham suas casas na sua própria casa, achou ninhos de pássaros, tocas de besouros, aranhas nos cantos, minhocas debaixo das pedras e na terra.
Ele começou a entender o ecossistema integrado a ele mesmo e sob a sua responsabilidade para continuar existindo.
O homem entendeu a poesia e a complexidade simples da vida ao seu redor, passou a ter atenção aos pequenos detalhes de tudo e como estes detalhes lhe ensinaram muito, sobre como:

“NÃO SE ESTÁ SOZINHO QUANDO SE PERCEBE TODA A BELEZA DA VIDA AO SEU REDOR.”

Também percebeu e nunca mais deixou o sentimento de distância ser uma dificuldade ou um impedimento para conseguir aquilo que considerava importante, porque em um simples e pequeno espaço de sua casa aconteciam milagres imenso e extraordinários que não impediam a vida de surgir e frutificar, desde que ele o homem, não interferisse tanto em seu ECOSSISTEMA DE ESTIMAÇÃO.

ALEXANDRE VIANA
22/02/2015


ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO: 22/03/2025

CONCLUSÃO:

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2 comentários em “18. UM CAFÉ COM AS FORMIGAS E O ECOSSISTEMA DE ESTIMAÇÃO”

  1. Eu amei a história ,e viajei no momento da leitura.
    Pude repensar em tantas coisas lindas que estão ao nosso redor e não damos valor e ou atenção.
    Parabéns.

    1. Olá Andrea que bom que gostou, obrigado.
      Realmente as pessoas estão desplugadas do todo, mesmo assim fazem parte dele. Quando entenderem isso terão um fluxo absurdo de conhecimento acima de qualquer ciência. Quando se entende a que estamos ligados compartilhamos do conhecimento por conexão.
      🙏🙏🙏

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