14. AS DUAS RAINHAS: O SEGREDO DA SABEDORIA CANINA

Como Um Homem Descobriu que os Cães Podiam Ler a Alma Humana Melhor que Qualquer Psicólogo.

Do Livro de Contos – O Andarilho – Histórias de Criança para Transformar Adultos – de Alexandre Viana.
Imagem gerada por IA

INTRODUÇÃO:

“ELAS SABIAM LER NAS PESSOAS O QUE NEM PSICÓLOGOS CONSEGUIAM VER…”
“ELAS NÃO LATIAM – ELAS DITAVAM SENTENÇAS SOBRE QUEM REALMENTE ÉRAMOS.”

AS DUAS RAINHAS
O provérbio antigo ecoava como um segredo mal guardado:

“DIGA-ME COM QUEM ANDAS E TE DIREI QUEM ÉS”.

Um homem simples mas muito perspicaz conhecia a verdade escondida nessas palavras – e havia descoberto um poderoso oráculo de quatro patas.

Em seu reino particular, duas soberanas reinavam com leis distintas. A primeira, uma dama dourada de porte aristocrático, movia-se como poesia viva. Seus pêlos sedosos – outrora emaranhados e sujos, frutos de um abandono de pessoas crueis – brilhavam agora como fios de um tecido solar, cada madeixa de seu pêlo uma história de resiliência transformada em beleza. Quando entrava em cena, o ar se enchia de uma energia contagiante: abanava o rabo em círculos perfeitos, como se pintasse arco-íris invisíveis no ar, e derrubava corações com seu peso afetivo desmedido. Era impossível não se render À GRANDE RAINHA AMARELA.

A segunda governante desse reino canino carregava sua coroa com a dignidade silenciosa dos que conhecem o valor real das coisas. Pequena em estatura, mas imensa em sabedoria, A RAINHA VIRA-LATA guardava nos seus olhos amendoados a profundidade de quem sobreviveu aos piores invernos da alma.
Seu corpo compacto era um mapa de batalhas – cicatrizes que contavam histórias de fome, frio e traição. Enquanto sua irmã dourada distribuía afeto como moeda corrente, ela reservava seu tesouro emocional para poucos eleitos. Sua lealdade era como diamante bruto – rara, indestrutível, valiosa.

O homem, humilde servo dessas duas majestades, observava os rituais diários com olhos de alquimista. Nas caminhadas matinais, testemunhava a corte se formar:

“Que criatura magnífica!”
“Nunca vi animal tão belo!”
“Quanto você aceita por ela?”


A GRANDE RAINHA recebia os súditos humanos com a generosidade ingênua dos puros de coração – oferecendo a barriga como tributo à admiração passageira, lambendo mãos alheias como se cada uma fosse a primeira.
Enquanto isso, nos bastidores, A PEQUENA RAINHA mantinha seu posto de sentinela, narinas trêmulas farejando histórias não contadas por trás de sorrisos fáceis e elogios baratos.

E então… o milagre silencioso.

Para um em cem, a vira-lata abaixava suas muralhas. Um rabo que abanava como folha de outubro, tímido mas certo. Um olhar que pedia carinho sem pressa, como quem reconhece um irmão de jornada. Nessas raras ocasiões, o homem sentia um calor no peito – sabia estar diante de almas lapidadas pela vida. A PEQUENA RAINHA nunca errava: escolhia professores discretos, artistas que viam cores onde outros viam apenas sombras, médicos que ouviam não só sintomas mas histórias. Gente que sabia ler o mundo nas entrelinhas.

Já os que só viam A GRANDE RAINHA… esses enchiam o ar de ofertas absurdas e risadas que soavam como sinos vazios. “Dou cinco mil!”, “Ela é perfeita!”, “Quero uma igual!”.
O homem correspondia com polidez, mas guardava o segredo mais precioso:

“AQUELA CADELA DOURADA ERA O ESPELHO MAIS VERDADEIRO”

– refletia exatamente o que eles eram – superficiais como poças de verão, barulhentos como trovoadas sem chuva.

Em casa, o verdadeiro ritual se revelava. Os amigos de alma sabiam o código não escrito:
A GRANDE RAINHA recebia-os na porta com festa de heroi retornando da guerra, mas era no colo que A PEQUENA RAINHA escolhia repousar que se revelavam os laços verdadeiros.
Ali, entre ronronados e suspiros caninos, acontecia a magia – o homem via seus amigos transformarem-se, amaciarem-se, como se aquele pequeno corpo quente lhes dissesse segredos que nem eles mesmos conheciam.

O homem chamava-as de suas DUAS RAINHAS – uma que governava o reino visível da beleza e alegria efêmera, outra que regia o império secreto das conexões que não precisam de palavras.
E assim, entre lambidas e olhares, o homem aprendera a lição mais valiosa:

“OS CÃES NÃO SÃO NOSSOS ANIMAIS – SÃO, NA VERDADE, NOSSOS ESPELHOS MAIS VERDADEIROS.”

A GRANDE RAINHA mostrava quem as pessoas achavam que eram.
A PEQUENA RAINHA revelava quem realmente eram – sem máscaras, sem disfarces, em toda sua gloriosa e imperfeita humanidade.

ALEXANDRE VIANA
09/01/2013

Para LUNA E FLOR – minhas professoras de quatro patas que me ensinaram a ler almas. E para todos os bichos que antes delas vieram e outros que ainda me aguardam com lições por aprender.

ÚLTIMA REVISÃO
02/04/2025

CONCLUSÃO:

“Nós não escolhemos nossos animais – eles nos escolhem por verem o que escondemos até de nós mesmos.”

COMO AVALIAMOS UNS AOS OUTROS DE FORMA TÃO SUPERFICIAL QUANTO AQUELES QUE CRITICAMOS.

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