13. SEM COLEIRA E SEM MEDO

A Intrigante Escolha Canina e a Poesia da Liberdade

Do Livro de Contos – O Andarilho – Histórias de Criança para Transformar Adultos – de Alexandre Viana.
Imagem gerada por IA

INTRODUÇÃO:

SEM COLEIRA E SEM MEDO

Nas auroras ainda tímidas, quando a cidade dormia sob o manto sutil do amanhecer, sem nenhum outro humano por perto, um homem e sua singular cachorrinha iniciavam seus passeios matinais.
Antes que o burburinho cotidiano invadisse as ruas desertas, um ritual peculiar se desenrolava. Ao simples tilintar da coleira, um frenesi adorável tomava conta da pequena criatura, seus olhos faiscando em antecipação, ansiando pelo toque familiar que anunciava a aventura iminente. Era como se, por um instante, ela ansiasse por sentir a segurança daquele limite antes de se lançar à vastidão do mundo.
Entretanto, a magia da coleira se esvaía no instante em que o portal da liberdade se abria. Uma nova onda de excitação a envolvia, um desejo puro e selvagem de sentir o vento nos pelos, de explorar o mundo sem amarras.

Em um ballet silencioso de súplicas e agitação, ela parecia implorar pela remoção daquele símbolo de contenção, almejando a deliciosa sensação de correr solta pela rua, um espírito livre em miniatura. Seus passeios eram uma dança constante ao redor de seu humano, jamais se distanciando para além de um raio de seguro e invisível, como se um fio de energia os mantivesse conectados.
Pequena em porte, mas astuta em espírito, atendia ao chamado com a presteza de um raio, a lealdade tatuada em cada movimento. As avenidas mesmo totalmente vazias eram respeitadas, jamais cruzadas sem a presença protetora. Cães desconhecidos eram figuras a serem evitadas, e uma timidez charmosa a mantinha distante de olhares de humanos estranhos.
Era fascinante observar essa dualidade: a busca pela segurança da coleira no limiar da porta e a ânsia pela liberdade assim que o mundo se apresentava.

Mas a coleira… ah, a mera tentativa de prendê-la novamente desencadeava uma pequena, porém fervorosa, revolução. Puxões teimosos, um coro de pequenos lamentos e latidos indignados ecoavam pela rua, um protesto apaixonado contra a perda da liberdade recém-desfrutada. Era um enigma para o homem, essa dualidade de desejos em sua companheira canina: a súplica pela coleira antes da partida e a veemente rejeição assim que a rua se abria.

“Sempre implora a coleira para sair, mas depois só quer a liberdade…”,

pensava ele, intrigado com a complexidade daquele pequeno coração peludo.
Solta, ela desbravava cada recanto, o focinho curioso explorando os aromas da manhã, marcando seu território com delicados respingos, como uma artista deixando sua assinatura em cada esquina.
Corria à frente, voltava, girava, uma explosão de energia contida em um corpo miúdo, mas sempre sob o olhar atento de seu cuidadoso humano. Parecia haver uma comunicação silenciosa entre eles, um diálogo de almas que se manifestava em gestos sutis, trocas de olhares carregados de afeto e sorrisos cúmplices que iluminavam a caminhada.

“Talvez ela não se sinta apenas como um cão… talvez, em seu íntimo, ela me veja como um pai, um protetor”, ponderava o homem, o carinho aquecendo seu peito.

E quem sabe, nos pensamentos misteriosos da cachorrinha, não ecoava uma percepção semelhante?
“Ele me oferece segurança, carinho incondicional… ele seria um pai maravilhoso, um companheiro leal em qualquer jornada.”

Encontravam refúgio em bancos de praça ou meio fios de calçadas, para breves instantes de descanso lado a lado. Ela, aconchegada perto dele, por vezes depositando a cabeça em sua perna; ele, velando por seu bem-estar com um olhar terno e protetor.
Quem cuidava de quem, afinal?

A resposta se dissolvia na atmosfera de afeto que os envolvia. Em seus deslocamentos, a guia permanecia em sua mão, um elo de segurança, mas nunca aprisionando o pescoço da pequena aventureira. Para ele, ela era mais que um animal de estimação; era um membro da família, um ser especial com sentimentos de liberdade que merecia voar quando corria e explorar o mundo ao seu lado, sem as restrições de uma coleira, unicamente pelo laço invisível do amor e da confiança mútua.

E assim seguiam, lado a lado, em uma jornada matinal ao nascer do sol, onde a liberdade e a conexão se entrelaçavam, mostrando que o verdadeiro laço transcende as amarras físicas. Uma história real de como o amor incondicional e a liberdade podem caminhar juntos, provando que, às vezes, são os cães que escolhem seus humanos, vivendo SEM COLEIRA E SEM MEDO.

ALEXANDRE VIANA
“Onde o coração encontra o caminho, a liberdade segue sem coleira.”
20/10/2012

ÚLTIMA REVISÃO
03/04/2025

CONCLUSÃO:

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