04. O MENINO E OS PÉS DE COUVE

A Lição que Transformou Orgulho em Sabedoria

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INTRODUÇÃO:

Já recebeu uma lição que doeu na hora, mas curou para sempre a alma?

O MENINO E OS PÉS DE COUVE

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O Quintal que Guardava Segredos

A casa estava em um bairro urbano, mas escondia um tesouro no pequeno quintal: os maravilhosos e enormes pés de couve palácio que eram o orgulho da mãe. Ela cuidava de tudo com dedicação obsessiva – regava ao amanhecer, afastava as lagartas com mãos pacientes e colhia apenas as folhas mais tenras para o almoço de todos os dias.

Seu filho, de pouco menos de dez anos, calado observava tudo de longe. Seu mundo era feito de uma felicidade silenciosa, questionador de perguntas não respondidas. Enquanto a irmã mais nova saltitava pela casa, ele preferia o seu micro universo, de brinquedos, bichinhos, insetos, pássaros e plantas à sua volta. Era feliz solitário, mas preocupava a todos com seu silêncio ensurdecedor.

A mãe, uma mulher ativa e moderna para sua época, era enfermeira e sonhava ser médica – a primeira mulher médica negra da aeronáutica – a maternidade e o marido tolheram-lhe os sonhos. Mas havia muito amor em seu coração enquanto assistia à solidão do menino com dor no peito. Nas noites quentes, nos intervalos das novelas em preto e branco, ela sussurrava ao marido militar rígido:

“Precisamos fazê-lo entender o mundo… mas como?”

O Patriarca e os Universos Invisíveis à sua Volta.

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O pai era um homem de fronte erguida e olhar distante, um estudioso cuja inteligência pulsava em cada palavra. Seus discursos se desenrolavam em labirintos de ideias complexas, tão intrincados que pareciam pertencer a outros cosmos – universos paralelos que existiam dentro da família e afastavam seus membros como galáxias em órbita. Embora falasse com convicção e brilho nos olhos, faltava-lhe a sensibilidade para decifrar os temores da mãe. Ele ouvia seus apelos, mas reagia como uma ostra que sussurra ao merecer atenção, afundada em si mesma e pouco aberta ao mundo exterior.

Para o pai, o filho era um espelho de perguntas não respondidas, reflexo de um passado repleto de curiosidades que nunca encontraram eco. Ele compreendia, em seu âmago rígido, que a mãe estava certa ao buscar caminhos para aproximar aquele menino silencioso do convívio humano. Contudo, faltava-lhe a chave para entrar no universo interior do garoto. Até que, num gesto de amor e desafio, o destino interveio com uma prova que desafiaria não só o orgulho paterno, mas ampliaria a ponte entre esses mundos invisíveis que se tocavam apenas na esperança de compreensão mútua.

A Ordem que Partiu o Orgulho

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Tudo começou numa manhã seca e quente, quando o menino questionou:

“Por que o pai do meu amigo lhe dá dinheiro para doces e o senhor não?”

Um silêncio inesperado daquele homem cheio de argumentos seguiu, e foi mais cortante que qualquer resposta. No dia seguinte, antes de sair para o trabalho, ao nascer do sol, o pai arrastou-o para o quintal. Suas botas militares esmagavam os canteiros enquanto arrancava violentamente os talos com as folhas dos pés de couve – os mais bonitos, os que a mãe reservara para o aniversário da avó separando tudo em molhos, bruscamente amarrados e colocados em uma cesta de vime.
“Vai vender cada um por cinquenta centavos. Só volta quando a cesta estiver vazia.”
A mãe não ousou impedi-lo, olhou com tristeza seus queridos pés de couve sendo partidos e seu filhinho de olhar assustado vendo o massacre:

“Não faça isso, ele é só um menino! E ainda está acabando com as minhas couves”

Mas o militar não cedeu. O portão da rua foi aberto e o pai espreitou sua ida, até o menino sumir ao final do quarteirão. A mãe queria ir com o menino, mas o pai esperava para ter certeza que não voltaria marotamente.

A Agonia das Portas que se Fecham

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As primeiras vendas foram fáceis. Velhas senhoras com pena do menino suado compravam sem regatear. Mas quando o sol, chegando ao meio-dia começou a queimar, as folhas perderam o viço, murchando como flores esquecidas num vaso.
Na décima quinta casa, uma mulher franziu o nariz:

“Quer cinquenta centavos nisso? Está tudo seco e murcho!”

Foi então que o menino sentiu o gosto amargo da derrota escorrendo pela garganta. Sentado na calçada quente, contou as moedas: faltavam três vendas. Com os olhos cheios de lágrimas de raiva, tomou a decisão que mudaria tudo:

“Vou vender por vinte e cinco… depois vejo o que fazer com meu pai.”

O Martírio da Cantina Escolar

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Na escola, o dinheiro pesava no bolso como pedra. Enquanto os colegas disputavam balas e quitandas na cantina, ele mastigava seu pão com manteiga da merenda, os olhos fixos no mostruário de doces.

“Não vou gastar”,

repetia para si mesmo, apertando as moedas até deixar marcas na palma.
Quando o filho do dono da padaria exibiu um pirulito gigante, algo dentro dele se partiu. Correu para o banheiro e chorou até sentir o gosto salgado das lágrimas escorrendo dos olhos à boca.

O Julgamento que Nunca Aconteceu

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Ao chegar em casa, a mãe revistou suas mãos e bolsos como se procurasse contrabando. Quando contou as moedas, seu rosto perdeu a cor:

“Menino faltam três vendas… seu pai vai te matar…”

O menino encolheu os ombros, mas seu estômago embrulhava-se como as folhas murchas daquela manhã. Sentou-se na soleira da porta da sala e esperava pelo castigo na chegada do pai.
Quando ele chegou, o silêncio na casa era tão denso que se podia ouvir o tique-taque do relógio da sala. O militar contou as moedas duas vezes, depois ergueu os olhos:

“Está faltando”… e o menino retrucou de cara amarrada segurando o choro:

“Eu tentei pai, mas ninguém quis comprar verduras murchas então vendi mais barato.”

O pai pensou sem falar nada, por um longo instante dizendo:

“Estenda as mãos menino!”

O menino obedeceu, os dedos tremendo como folhas ao vento, certo de que sentiria o cinto a qualquer momento. Mas em vez da dor esperada, o pai colocou as moedas em suas pequenas mãos e em seguida lhe deu um abraço apertado que o envolveu – o primeiro que recebia daquele homem.

O Tesouro Escondido no Quarto

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“Tome o dinheiro é seu”.

Disse sem sorrir mas também muito orgulhoso do menino.
O menino sem acreditar retrucou surpreso:

“Posso ficar com ele pai?” – Fez muito bem meu filho, o dinheiro é seu, você o mereceu” – respondeu o homem e foi comer o seu jantar sem olhar para traz.
Abalado, com raiva, ressentido e ainda muito orgulhoso, saiu devagarinho sem demonstrar qualquer emoção. No silêncio do quarto, na janela das plantinhas e de sua floresta de brinquedos, o menino contou as moedas vinte vezes. Cada centavo representava uma porta batida, um sorriso forçado, uma humilhação engolida.
Por fora, mantinha a cara fechada que seu pai tanto admirava. Por dentro, sorria com uma alegria diferente de qualquer coisa que já tinha sentido, que se espalhava como mel no pão quente. Apertou as moedinhas contra o peito e sussurrou para seus brinquedos e bichinhos:

“Nós conseguimos, vencemos ele. Amanhã vou comprar aquele pirulito gigante.”

✍️ ALEXANDRE VIANA
Contador de Histórias e Guardião de Memórias
10 de maio de 2025

“Escrevo sobre os momentos em que a vida nos entrega couves murchas, mas nos ensina a transformá-las em lições perenes.”

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CONCLUSÃO – A LIÇÃO QUE FICOU

Esta história nos mostra que:

O verdadeiro crescimento vem quando enfrentamos nossos medos – como o menino enfrentando cada porta fechada
Os pais dão lições, mas a vida dá significado a elas – da raiva ao entendimento
O que parece castigo pode ser o maior presente – aquelas moedas valiam mais que ouro

E você? Qual foi sua “cesta de couves” na vida? Aquela lição difícil que no final se revelou preciosa?
Comente abaixo.

Esta história tocou seu coração? ❤️

✍️ ALEXANDRE VIANA
Filósofo do Cotidiano e Tecelão de Destinos

“Entrego histórias como sementes – cada uma contém o potencial de florescer em sabedoria.”

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