03. O FANTÁSTICO SEGREDO DA ROLINHA BRANCA

QUANDO O DESEJO SE TRANSFORMA EM ARMADILHA
“Uma Fábula Sobre a Inocência Perdida e o Tesouro Escondido no Deixar Ir”

Do livro de Contos – O Andarilho – Histórias de Criança para Transformar Adultos – de Alexandre Viana
Imagem de antoine galvez por Pixabay

INTRODUÇÃO:

O Segredo que Ninguém Conta: A Armadilha Invisível do Desejo

O QUE VOCÊ MAIS DESEJA SÓ VIRÁ QUANDO VOCÊ PARAR DE CORRER ATRÁS.

O SEGREDO DA ROLINHA BRANCA: QUANDO O DESEJO SE TRANSFORMA EM ARMADILHA
“Uma Fábula Sobre a Inocência Perdida e o Tesouro Escondido no Deixar Ir”

O VELHO HOMEM era uma figura conhecida nas ruas de pedra da cidade. Cabelos prateados como fios de luar, rugas que contavam histórias de sorrisos e silêncios, e olhos que brilhavam com a quieta sabedoria de quem aprendeu a escutar o vento. No entanto todos os dias, ao raiar do sol, ele se sentava no banco mais antigo da praça central, onde as árvores sussurravam segredos e os pássaros dançavam no céu como notas de uma sinfonia invisível.

Ali, entre pombas gorjeadoras e pardais travessos, ele encontrava sua paz. Não eram apenas pássaros para ele – eram poetas alados, pintores de voos efêmeros, guardiões de uma liberdade que ele, em seu corpo cansado, só podia admirar.  Consequentemente, seu coração se enchia de uma alegria simples, pura, como a água de um riacho cristalino.
Aquele era seu tesouro: o instante fugidio em que o mundo parecia perfeito, e ele, parte desse mundo.

Porém, um dia, como uma semente levada pelo vento, um desejo insidioso de posse e vaidade brotou em seu peito:

“E SE ELES VIESSEM ATÉ MIM? E SE COMESSEM EM MINHA MÃO, CONFIANDO EM MIM COMO UM AMIGO?”

O pensamento, inicialmente terno, logo se tornou uma chama que consumia seus dias. A paz outrora encontrada na contemplação, por outro lado, transformou-se em obsessão e inquietação. Ele já não via os pássaros – desejava possuí-los.

“O BELO AINDA QUE VAZIO SEDUZ À POSSE.”

Foi então que traçou seu plano. “Farelos de pão e sementes”, murmurou, como um feiticeiro convencido de sua magia. Todos os dias, ao amanhecer, espalhava um banquete no quintal de sua casa, onde o musgo crescia entre as rachaduras do muro. E os pássaros vinham – oh, como vinham! Rolinhas tímidas, garrinchas delicadas, andorinhas que cortavam o ar como flechas prateadas. Era um espetáculo de cores e cantos, uma sinfonia de asas, cantos e gorjeios.

O VELHO, com o coração batendo forte, aproximava-se lentamente, a mão estendida como uma oferenda sagrada. Entretanto, invariavelmente, ao primeiro movimento, os pássaros esvoaçavam, deixando para trás apenas o eco de seus sustos.
“Por quê?”, questionava-se, o rosto outrora sereno agora vincado pela frustração.

“NÃO VEEM QUE SÓ QUERO AMÁ-LOS?”

Os dias viraram semanas, e o ritual se repetia como uma dança macabra. O homem já não sorria. Seus olhos, antes cheios de maravilha, agora cintilavam com uma luz estranha – a luz da obsessão. Os farelos e sementes, que antes eram espalhados com carinho, agora eram esmagados em seus punhos cerrados. Além disso, suas aproximações já não eram lentas e respeitosas, mas sorrateiras, como as de um caçador.

“Ah, ingratos!”, rosnava, enquanto armava pequenas armadilhas com redes e gaiolas improvisadas. Mas os pássaros, sábios em sua inocência, sempre escapavam, como se soubessem ler a escuridão que agora habitava sua alma.

Finalmente, num dia como qualquer outro, exausto de sua própria loucura, O VELHO desistiu.

Com um gesto brusco, derrubou a vasilha de farelos e desferiu um último grito ao vento:

“SÃO TODOS UNS TOLOS! NUNCA MAIS PERDEREI MEU TEMPO COM VOCÊS!”

Então, algo mágico aconteceu.

Ao soltar aquele último fio de raiva, seu corpo pesado afundou na cadeira. Seus músculos relaxaram, seus punhos se abriram, e os farelos que restavam em sua palma ficaram expostos, como um presente involuntário. Foi então que adormeceu – não o sono agitado dos que carregam desejos, mas o sono profundo e cansado dos que se renderam.

E foi nesse momento de abandono total que ELA apareceu.

Uma pequena, rara e encantadora ROLINHA BRANCA, diferente de todas as outras – seu corpo parecia feito de luz, suas penas brilhavam como pérolas sob o sol. Voou silenciosamente até o braço da cadeira, onde a mão do VELHO repousava. E então, com uma delicadeza que cortou o tempo, bicou os farelos em sua palma aberta.

O VELHO acordou. Não com um sobressalto, mas como quem emerge de um sonho profundo. E ali, diante de seus olhos, estava o impossível: A ROLINHA BRANCA, comendo em sua mão, sem medo, sem pressa.

Num instante, ele entendeu.

Não era o desejo que atraía os pássaros – era a ausência dele. Não era a mão que se fechava para possuir, mas a que se abria para deixar ir. E, como num passe de mágica, os outros pássaros voltaram. Pousaram em seus ombros, nos braços da cadeira, rodearam o chão aos seus pés.
O quintal tornou-se novamente um palco de vida, e o velho, agora

SEM QUERER NADA, TINHA TUDO.

ALEXANDRE VIANA
“Às vezes, o que você mais deseja só vem, quando você para de segurar o fio do desejo e da posse.”
25/11/2004

ÚLTIMA REVISÃO
13/04/2025

CONCLUSÃO:

O Preço da Posse: Quando O Amor se Torna uma Gaiola

A VERDADEIRA LIBERDADE NÃO ESTÁ EM TER, MAS EM DEIXAR SER.
O QUE PERTENCE À LUZ NÃO PODE SER APRISIONADO.
GOSTOU DO CONTO? AGORA É A SUA VEZ!

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